O papel de uma professora ambiciosa na educação
- Thamiris Paz
- 16 de out. de 2017
- 4 min de leitura

Primeiramente, fora Temer e, em segundo lugar, mas não menos importante, feliz dia das(os) professoras(es) para as(os) colegas e para vocês alunas e alunos que podem contar com o ensino e o papel das(os) educadoras(es). Não poderia ofuscar ou tentar retirar deste texto seu caráter político, pois a atuação profissional não é imparcial ou neutra. Carregamos conosco nossa bagagem de conhecimento e visão de mundo, bem como nossos ideais. Portanto, este texto não tem somente a intenção de desejar felicitações e parabenizar os profissionais da educação, mas também de, ambiciosamente, refletir um pouco sobre a educação e o(a) educador(a). Utilizei o termo "ambiciosamente", porque, ao contrário de muitos, não estou inserida há muitos anos no contexto educacional como professora, então, já deixo aqui explícito que o que vou falar expressa a minha condição de "novata".
Uma novata ambiciosa
Particularmente, eu sempre gostei de ensinar, explicar para outras pessoas o meu ponto de vista e como eu entendi o assunto. Não acredito que sou muito boa de me comunicar, tenho meus receios sociais, mas sempre gostei muito de falar e ensinar, o que se evidenciou nas minhas tantas brincadeiras de "escolinha" na infância, nas minhas consideradas razoavelmente boas redações no Ensino Médio, na minha paixão por português e outros idiomas, no meu prazer (apesar da ansiedade intensa) em apresentar seminários no Ensino Médio e na graduação, na minha paixão por manter um blog e escrever histórias durante a adolescência, e nas minhas atitudes de explicar para os meus colegas de classe um assunto com o qual eu tinha facilidade. Por quase três anos me agarrei à ideia de cursar Jornalismo quando chegasse a hora de escolher o curso superior, mas a pressão social que veio com o último ano me fez desistir desse objetivo e ficar perdida entre tantas opções. É importante falar que eu pensei em fazer Letras-Inglês, mas não alimentei esse pensamento por um principal motivo: não seria valorizada financeiramente, ou seja, trabalharia demais, em precárias condições, e receberia um salário ruim. Acabei fazendo Serviço Social, um curso que eu não fazia a mínima ideia do que era, mas foi o que eu consegui passar. Amei o curso e devo boa parte da minha formação social e política a ele e minhas professoras. Nesse meio tempo, dei aulas de inglês e fiz traduções e legendas, que já praticava há muito tempo. Terminei o curso frustrada com a condição de trabalho profissional e sem me sentir realizada. Pensei então, "não sei o que fazer. Vou traduzir e legendar. (...) Eita! Fazer isso é tão bom, eu tinha esquecido o quanto eu amava fazer isso". Resultado: aqui estou eu, me sentindo muito feliz fazendo o que amo - traduzir, legendar e dar aulas de inglês. Já deu pra entender que estou há pouco tempo no mercado de trabalho como professora, não cursei Letras e não lecionei em escolas públicas nem privadas, exceto quando dei aulas de inglês em uma escola pública pelo Programa Ganhe o Mundo, experiência que estimulou minha paixão por dar aulas de inglês e incitou alguns questionamentos a respeito do ensino público. Agora que redescobri o que amo, quero estudar cada vez mais metologias de ensino, linguagens, pedagogia, psicologia educacional e tudo o que envolve o processo de ensino e aprendizagem. Por que sou ambiciosa? Porque ainda acredito que posso mover engrenagens por meio do meu trabalho profissional sob ideais de democracia e igualdade. Sempre fui sonhadora, mas essa característica me faz acreditar que a utopia não é a representação do impossível nem de um objetivo final que se acaba em si mesmo, mas sim de um horizonte para o qual eu caminho, sem pressa de chegar.
Educação, reprodução de padrões e estruturas sociais e o papel do(a) professor(a)
Não posso viver, pensar e agir, sem expressar as características intrínsecas e extrínsecas à sociedade que me formou. Da mesma forma, se estudo, o faço de maneira a reproduzir e evidenciar o padrão de ensino ao qual fui mais exposta e no qual estou inserida; se ensino, eu, bem como as pessoas ao meu redor e as(os) alunos, reproduzo padrões de ensino e crenças quanto ao ensino e à aprendizagem de acordo com as bases estruturantes da sociedade e do contexto histórico, social, cultural e econômico ao qual estou inserida. Por isso, não posso dizer que a escola é neutra quantos a ideais políticos, quanto a estruturas de poder, quanto a desigualdades sociais. Pelo contrário, a escola, o modelo de ensino, a estrutura educacional são expressões de, no caso, uma sociedade capitalista neoliberal, na qual, consequentemente, a educação é mercadorizada (por exemplo, no Brasil, a educação pública é socialmente percebida como "horrível", por quem está inserido no ensino público e até quem nunca pisou numa escola pública; e as universidade públicas tem pouquíssimas vagas), e os profissionais de educação (especialmente básica) estão inseridos em um degrau baixo na hierarquia de classes. Sabendo disso, não posso dar aula a um(a) aluno(a) acreditando que, por simplesmente estar fazendo o meu papel, estou contribuindo para um mundo mais justo, quando, na verdade, não estou fazendo nada diferente, estou, ao contrário, reproduzindo as mesmas desigualdades contra as quais eu busco lutar. Então, é por isso que penso, "se estou fazendo o que amo e se estou contribuindo para a formação de pessoas, vou fazê-lo, no mínimo, sob a perspectiva da 'utopia' da igualdade de gênero, classe e raça". Por isso, não posso dizer outra coisa senão que sou uma novata (por enquanto) ambiciosa, que ama e acredita no seu trabalho. Mas entenda, não pense que a minha "fala bonita" é solidária. É também, mas antes é revolucionária.
Por fim, felicitações e apoio na luta
Muitas professoras e professores passaram pela minha vida e contribuíram para a minha formação social e profissional. Eu sou muito grata a elas e eles por me ensinarem o valor da minha formação, embora nem sempre eu pude percebê-lo tão evidentemente. Eu me junto a vocês e me inspiro em vocês para ser uma professora tão boa quanto vocês. Feliz dia 15 a todas e todos e que permaneçamos firmes na luta por uma educação democrática e igualitária.
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